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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

The Walking Dead – 2×06: Secrets


É a família Addams!
Spoilers abaixo:
“I know what kind of man you are.” – Dale
“Secrets” não é sobre segredos em si. Não é sobre o processo de guardá-los, o controle da situação, os sussurros, uma dominante sensação de que algo está prestes a acontecer… Em típico espírito de The Walking Dead, é sobre confrontos pessoais e as decisões estúpidas (ou não) que acabam sendo feitas quando eles vêm à tona. A diferença aqui é que a série garante esses momentos por trazê-los como uma sucessão de explosões para várias histórias iniciadas na premiere, ao invés de simplesmente jogá-los na cara e fazer uma reza dentro da trama – muitas vezes literal – pra ver se funciona.
Talvez as duas cenas que mais exemplifiquem isso sejam as que mais se opõe. Lori e Rick, discutindo a gravidez, e Dale e Shane, partindo para ameaças.
Na primeira, a raiva subentendida coloca em contraste com a culpa de Rick todo o arco emocional da sua esposa: enquanto ele quer acreditar em um mundo melhor e nos pequenos sinais de esperança como uma boneca no lago, as situações do grupo acabam se provando cada vez mais sombrias. Daryl quase morreu por uma besteira. Carl e T-Dog ainda estão se recuperando. Hershel os quer fora da fazenda. Sophia estar viva seria um milagre. Mas o seu otimismo natural não permite que o raciocínio de Lori seja realmente ouvido. É estranho, é um pensamento que vai de encontro ao seu Velho Mundo na posição de bom policial, bom líder, bom pai de família que ainda ocupa a mente de Rick. Sua bondade é uma virtude, mas como toda virtude em tempos difíceis, acaba ganhando ares de ingenuidade. Se por um lado ele pode perdoar Lori por algo compreensível, por outro, não faz a mínima ideia do que aquilo realmente significou para ela.
Na segunda cena, os ataques são confusos, chegam de ambos os lados e se espalham por todo lugar. Parte da raiva de Dale é motivada por algo além do que ele diz, o seu relacionamento complicado, indefinido e fora de lugar com Andrea. Mas ele tem um argumento. Um bom argumento de que Shane está divergindo drasticamente do modo de pensar do grupo, e de que ele deveria sair dali antes que algo ruim acontecesse – para ele ou por causa dele, Dale está exercendo o seu papel como uma espécie de consciência dos personagens. Por motivos pessoais? Sim, só que baseado em provas lá da primeira temporada ou do começo do ano (em retrospecto, é interessante notar alguns momentos em episódios passados onde Dale observava Shane tomar decisões e se portar na frente dos outros).
Isso irrita Shane, algo que… Não funciona tão bem para a série quanto deveria. Sim, o confronto atinge em cheio bem no lugar onde quer atingir. Quando Shane praticamente diz que vai matar Dale, eu me preocupei. A série conseguiu com que um dos seus personagens importasse para mim. Mas como uma figura perigosa, Shane passa uma sensação mais repulsiva do que atrativa. Ele não tem aquele charme magnético de Ben Linus, ou a brutalidade de Khal Drogo. Faz parte de um gênero de personagem que quase sempre funciona (o sem controle), só que sem algo que vai além do próprio perigo que representa – uma conexão emocional, um passado, um motivo ressonante para agir assim… Nada disso aparece. É meio que vazio.
Pelo menos Shane consegue alguns bons momentos com Andrea, uma personagem com a qual ele estranhamente combina. Aquilo não deve ser nada além do que é, já que as personalidades dos dois não permitiriam algo do tipo. Ainda assim, parece um fim natural para duas pessoas tão presas em ódio próprio e na monotonia que desprezam.
De resto, “Secrets” apenas elabora alguns elementos para o midseason finale semana que vem. Sophia ainda está desaparecida, mas a busca continua e serve como uma desculpa para os personagens matarem merecido tempo na fazenda. Glenn conta para Dale sobre o celeiro, e Dale tem uma conversa interessante onde Hershel esclarece as razões pelas quais ainda mantém os zumbis vivos (espero que ele não seja burro o suficiente para achar que seja possível curar pessoas de cérebro podre). Tudo enquanto Maggie é atacada por um zumbi, levando a uma reavaliação dos seus sentimentos por Glenn – o que tanto a aproxima dele, como levanta uma gigantesca barreira emocional entre os dois.
Tudo indica que esses elementos vão coalescer para resultar em um episódio interessante na semana que vem, o último da série no ano. Mas a verdadeira diversão aqui é que não se sabe ao certo como… The Walking Dead tem boas intenções, e muitas vezes as representa na tela em cenas confusas ou acidentalmente hilárias. Será que esse vai ser um desses casos, ou será que nós vamos ganhar algo digno para o que tudo indica ser o final desse arco interiorano?
De qualquer forma, só sei de uma coisa: vai ser meio traição se depois disso, depois de tantos caminhos errados e confrontos, todos sobreviverem.
Outras observações:
- Carl com uma arma. Isso vai dar merda.
- Dale: pior professor do ano (e vale lembrar que ainda estamos no ano do professor Power Ranger bizarro de The Killing).
- Andrea pede desculpas para Daryl. Daryl solta uma frase de efeito. Curiosidade: todas as cenas de Glee são basicamente escritas em cima desse modelo.
- Adoro o Jeffrey DeMunn como Dale. Aqueles olhos arregalados constantes são perfeitos para todo e qualquer momento da série. “Sim, isso é absurdo… Mas vem comigo!”.
- Estou MUITO ansioso para ver o grupo enlouquecendo quando descobrir os zumbis no celeiro, com direito a uma montagem Scooby-Doo deles correndo pelos cômodos da fazenda e o T-Dog quebrando potes na cabeça enquanto em posição fetal no trailer.
- Também estou ansioso para o inevitável momento de glória que Glenn terá para cumprir a meia profecia, meia crítica de Maggie. O personagem não recebeu um desenvolvimento na mesma intensidade das conversas irritantes sobre sentimentos óbvios ou os seus usos como isca, mas é um bom sinal de comprometimento o fato de que a série está seguindo em frente com ele e ao mesmo tempo mantendo os traços ingênuos de personalidade que o definem – ele não aguentando mentir e contando tudo para Dale foi uma das poucas soluções fáceis da temporada que funcionou.
- Não estou incomodado com a busca de Sophia como a maioria, pois é uma boa desculpa para a série sossegar um pouco e elaborar algumas coisas que precisava desesperadamente fazer. Sobre ela, também tenho outra posição meio solitária: não quero ter uma resposta. Se eu escrevesse The Walking Dead, nunca responderia o que houve com a personagem – se algum viajante adotou a criança perdida, se ela virou um zumbi ou se morreu. E logo depois de escrever o episódio que deixa essa pergunta aberta para todo o sempre, criaria um bebê zumbi e dedicaria um arco de sete episódios a ele.

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